sexta-feira, 25 de julho de 2008

Os primeiros discos da Yoko Ono revelavam algo sobre as conversas que ela deve ter tido com o John Cage, lá em 1960, quando os dois moraram juntos. Eram musicalmente muito radicais. Aquela mistura de canto japonês com ruídos e guitarras distorcidas era demais para o mundo e, claro, aquela “japonesa feia” que tinha conseguido agarrar um ex-beatle-galã tinha de ser odiada - e muita gente odiou e odeia até hoje. Em 1971 (com o disco duplo "Fly", que servia de trilha sonora para sua exposição "Grappefruit"), ela começou a ficar mais tradicional na música. No entanto, suas letras ficaram cada vez mais radicais. Em 1972 ela lançou o fantástico (e também duplo) “Approximately Infinity Universe” e em 1973, ela lançou o seu disco mais feminista, que é este Feelling The Space. Penso que não é à toa que seu disco mais diretamente feminista seja também um disco de black music, afinal “woman is the nigger of the world” é uma frase sua. As letras são irônicas, incrivelmente bem escritas, e ainda conta com a participação do marido John dando a última palavra: “Sim, querida”. Tem jazz, baladinhas sacanas, funks escrotos, musiquinhas de cabaret. Tudo bem tradicional, não fossem as letras muitas vezes petrificantes: “Sou um navio de batalha/congelado pelo ódio de minha mãe/Ancorado no mar do pólo norte” ou “Metade do mundo está morto, a outra metade dormindo/Então ela prefere manter-se dirigindo o seu carro funerário”, e por aí vai. Uma banda fantástica, um coro de mulheres e Yoko Ono exasperando o mundo, falando o que pensa com tanta coragem e nobreza, além de sempre trazer (seja no rock ou na black music ou onde quer que seja), uma marca tão particular. Pra você, Flávia. ;)



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